A Escrava Isaura - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 148 / 185

- E o tal Martinho um valdevinos capaz de todas as infâmias. Tudo pode ser; mas a V. S.ª como interessado, compete averiguar essas coisas.

- E é o que venho disposto a fazer. Irei lá eu mesmo verificar o negócio por meus próprios olhos, e já, se for possível.

- Quando quiser. Ali estão o oficial de justiça e os guardas, que ainda agora de lá vieram, e ninguém melhor do que eles pode guiar a V. S.ª e efetuar a captura, caso reconheça ser a sua própria escrava.

- Também me é preciso que V. S.ª ponha o - cumpra-se - nesta precatória - disse Leôncio apresentando a precatória contra Miguel - é necessário punir o patife que teve a audácia de desencaminhar e roubar-me a escrava.

O chefe satisfez sem hesitar ao pedido de Leôncio, que acompanhado da pequena escolta, que fez subir ao seu carro, no mesmo momento se dirigiu à casa de Isaura, onde o deixamos em face de Álvaro.

A situação deste não era só crítica; era desesperada. O seu antagonista ali estava armado de seu incontestável direito para humilhá-lo, esmagá-lo, e o que mais é, despedaçar-lhe a alma, roubando-lhe a amante adorada, o ídolo de seu coração, que ia-lhe ser arrancada dos braços para ser prostituída ao amor brutal de um senhor devasso, se não sacrificada ao seu furor. Não tinha remédio senão curvar-se sem murmurar ao golpe do destino, e ver de braços cruzados metida em ferros, e entregue ao azorrague do algoz a nobre e angélica criatura, que, única entre tantas belezas, lhe fizera palpitar o coração em emoções do mais extremoso e puro amor.

Deplorável contingência, a que somos arrastados em consequência de uma instituição absurda e desumana!





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