A Escrava Isaura - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 152 / 185

- Vai-te, Isaura, vai-te, - murmurou Álvaro com voz trêmula e sumida, achegando-se da cativa. - Não desanimes; eu não te abandonarei. Confia em Deus e em meu amor.

Uma hora depois Álvaro recebia em casa a visita de Martinho. Vinha este mui ancho e lampeiro dar conta de sua comissão, e sôfrego por embolsar a soma convencionada.

- Dez contos!... oh! - vinha ele pensando. - uma fortuna! agora sim, posso eu viver independente!... Adeus, surrados bancos de Academia!... adeus, livros sebosos, que tanto tempo andei folheando à toa!... vou atirar-vos pela janela a fora; não preciso mais de vós: meu futuro está feito. Em breve serei capitalista, banqueiro, comendador, barão, e verão para quanto presto!... - E à força de multiplicar cálculos de usura e agiotagem, já Martinho havia centuplicado aquela soma em sua imaginação.

- Meu caro senhor Álvaro, - veio logo dizendo sem mais preâmbulos, - está tudo arranjado à medida de nossos desejos. Pode V. S.ª viver tranquilo em companhia da gentil fugitiva, que daqui em diante ninguém mais o importunará. De feito o procedimento de V. S.ª nesta questão tem sido muito belo e digno de elogios; é próprio de um coração grande e generoso como o de V. S.ª. Não se dá maiar desaforo! no cativeiro uma menina tão mimosa e tão prendada!... Agora aqui está a carta, que escrevo ao lorpa do sultãozinho. Prego-lhe meia dúzia de carapetões, que o hão de desorientar completamente.

Assim falando, Martinho desdobrou a carta, e já começava a lê-la, quando Álvaro impacientado o interrompeu.

- Basta, senhor Martinho, - disse-lhe com mau humor; - o negócio está arranjado; não preciso mais de seus serviços. Arranjado!... como?...

- A escrava está em poder de seu senhor.

- De Leôncio!... impossível!





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