A Escrava Isaura - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 173 / 185

Era-me absolutamente necessário dar este passo, porque minha mulher recusa-se obstinadamente a reconciliar-se comigo, enquanto eu conservar Isaura cativa em meu poder, capricho de mulher, com que bem pouco me importaria, se não fosse... - isto aqui entre nós, meu amigo; confio em tua discrição.

- Podes falar sem susto, que meu coração é como um túmulo para o segredo da amizade.

- Bem; dizia-te eu, que bem pouco me importaria com os arrufos e caprichos de minha mulher, se não fosse o completo desarranjo em que desgraçadamente vão os meus negócios. Em consequência de uma infinidade de circunstâncias, que é escusado agora explicar-te, a minha fortuna está ameaçada de levar um baque horrendo, do qual não sei se me será possível levantá-la sem auxílio estranho. Ora meu sogro é o único que com o auxílio de seu dinheiro ou de seu crédito pode ainda escorar o edifício de minha fortuna prestes a desabar.

- Em verdade procedes com tino e prudência consumada. Oh! teu sogro!... conheço-o muito; é uma fortuna sólida, e uma das casas mais fortes do Rio de Janeiro; teu sogro não te deixará ficar mal. Quer extremosamente à filha, e não quererá ver arruinado o marido dela.

- Disso estou eu certo. Mas isto ainda não é tudo; escuta ainda, Jorge. O meu rival, esse tal senhor Álvaro, que tanto cobiçou a minha Isaura para sua amizade, que não teve pejo de seduzi-la, acoutá-la e protegê-la pública e escandalosamente no Recife, esse grotesco campeão da liberdade das escravas alheias, que protestou me disputar Isaura a todo o risco, ficará de uma vez para sempre desenganado de sua estulta pretensão. Vê pois, Jorge, quantos interesses e vantagens se conciliam no simples fato desse casamento.





Os capítulos deste livro