A Escrava Isaura - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 18 / 185

Também meu pai parece que cedeu às instâncias do pai dela, que é um pobre galego, que por ai anda, e que pretende libertá-la; mas o velho pede por ela tão exorbitante soma, que julgo nada dever recear por esse lado. Vê lá, Henrique, se há nada que pague uma escrava assim?...

- É com efeito encantadora - replicou o moço, - se estivesse no serralho do sultão, seria sua odalisca favorita. Mas devo notar-te, Leôncio, - continuou, cravando no cunhado um olhar cheio de maliciosa penetração, - como teu amigo e como irmão de tua mulher, que o teres em tua sala e ao lado de minha irmã uma escrava tão linda e tão bem tratada não deixa de ser inconveniente e talvez perigoso para a tranquilidade doméstica...

- Bravo! - atalhou Leôncio, galhofando, - para a idade que tens, já estás um moralista de polpa!... mas não te dê isso cuidado, meu menino; tua irmã não tem dessas veleidades, e é ela mesma quem mais gosta de que Isaura seja vista e admirada por todos. E tem razão; Isaura é como um traste de luxo, que deve estar sempre exposto no salão. Querias que eu mandasse para a cozinha os meus espelhos de Veneza?... Malvina, que vinha do interior da casa, risonha, fresca e alegre como uma manhã de abril, veio interromper-lhes a conversação.

- Bom dia, senhores preguiçosos! - disse ela com voz argentina e festiva como o trino da andorinha. - Até que enfim sempre se levantaram!

- Estás hoje muito alegre, minha querida, - retorquiu-lhe sor- rindo o marido; - viste algum passarinho verde de bico dourado?...

- Não vi, mas hei de ver; estou alegre mesmo, e quero que hoje aqui em casa seja um dia de festa para todos. Isto depende de ti, Leôncio, e estava aflita por te ver de pé; quero dizer-te uma coisa; já devia tê-la dito ontem, mas o prazer de ver este ingrato de irmão, que há tanto tempo não vejo, me fez esquecer...

- Mas o que é?... fala, Malvina.





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