A Escrava Isaura - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 183 / 185

Senhor de todos os títulos de divida de Leôncio, isto é, de toda a sua fortuna, Álvaro partiu para Campos a fim de promover por sua conta a execução dos bens do mesmo, e munido de todos os papéis e documentos, acompanhado de um escrivão e dois oficiais de justiça, apresentou-se em pessoa em casa de Leôncio para intimar-lhe em pessoa a sentença de sua perdição.

- Oh! maldição! - exclamara Leôncio, arrancando os cabelos em desespero, depois que ouvira dos lábios de Álvaro aquele arresto esmagador.

Atordoado e quase louco com a violência do golpe, ia sair correndo pela porta a fora.

- Espere ainda, senhor, - disse Álvaro detendo-o pelo braço. - Agora quanto à escrava de que há pouco se falava, o que pretendia fazer dela?

- Libertá-la, já lhe disse, - respondeu Leôncio com rudeza.

- E mais alguma coisa; creio que também me disse que ia casá-la; e, desculpe-me a pergunta, haveria para isso consentimento da parte dela?

- Oh! não! não!... eu era arrastada, senhor! - exclamou Isaura resolutamente.

- É verdade, senhor Álvaro, - atalhou Miguel, ela ia casar-se, por assim dizer, forçada. O senhor Leôncio, como condição da liberdade dela obrigava-a a casar-se com aquele pobre homem que V. S.ª ali vê.

- Com aquele homem?! - exclamou Álvaro cheio de pasmo e indignação, olhando para o homúnculo que Miguel lhe indicava com o dedo.

- Sim, senhor, - continuou Miguel, - e se ela não se sujeitasse a esse casamento, teria de passar o resto da vida presa em um quarto escuro, incomunicável, com o pé enfiado em uma grossa corrente, como tem vivido desde que veio do Recife até o dia de hoje...

- Verdugo! - bradou Álvaro, não podendo mais sopear sua indignação. - A mão da justiça divina pesa enfim sobre ti para punir tuas monstruosas atrocidades!

- O que vergonha!.., que opróbrio, meu Deus! - exclamou Malvina, debruçando-se a uma mesa, e escondendo o rosto entre as mãos.





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