A Escrava Isaura - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 184 / 185

- Pobre Isaura! - disse Álvaro com voz comovida, estendendo os braços à cativa. - Chega-te a mim... Eu protestei no fundo de minha alma e por minha honra desafrontar-te do jugo opressor e aviltante, que te esmagava, porque via em ti a pureza de um anjo, e a nobre e altiva resignação da mártir. Foi uma missão santa, que julgo ter recebido do céu, e que hoje vejo coroada do mais feliz e completo resultado. Deus enfim, por minhas mãos vinga a inocência e a virtude oprimida, e esmaga o algoz.

- Deixe-se de blasonar, senhor! - gritou Leôncio agitando-se em gesticulações de furor: - isto não passa de uma infâmia, uma traição, e ladroeira...

- Isaura! - continuou Álvaro com voz sempre firme e grave: - se esse algoz ainda há pouco tinha em suas mãos a tua liberdade e a tua vida, e não tas cedia senão com a condição de desposares um ente disforme e desprezível, agora tens nas tuas a sua propriedade; sim, que as tenho nas minhas, e as passo para as tuas. Isaura, tu és hoje a senhora, e ele o escravo; se não quiser mendigar o pão, há de recorrer à nossa generosidade.

- Senhor! - exclamou Isaura correndo a lançar-se aos pés de Álvaro; - oh! quanto sois bom e generoso para com esta infeliz escrava!... mas em nome dessa mesma generosidade, de joelhos eu vos peço, perdão! perdão para eles...

- Levanta-te, mulher generosa e sublime! - disse Álvaro estendo-lhe as mãos para levantar-se. - Levanta-te, Isaura; não é a meus pés, mas sim em meus braços, aqui bem perto do meu coração, que te deves lançar, pois a despeito de todos os preconceitos do mundo, eu me julgo o mais feliz dos mortais em poder oferecer-te a mão de esposo!...

- Senhor, - bradou Leôncio com os lábios espumantes e os olhos desvairados, - aí tendes tudo quanto possuo; pode saciar sua vingança, mas eu lhe juro, nunca há de ter o prazer de ver-me implorar a sua generosidade.





Os capítulos deste livro