A Escrava Isaura - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 31 / 185

Leôncio, porém, que os espiava através das sanefas entreabertas de uma alcova, não avistava Henrique e Malvina, que haviam parado no corredor junto à porta da entrada.

- Oh! oh! - exclamou ele no momento em que Belchior prostrava-se aos pés de Isaura. - Creio que tenho dentro de casa um ídolo, diante do qual todos vêm ajoelhar-se e render adorações!... até o meu jardineiro!... Olá, senhor Belchior, está bonito!... Continue com a farsa, que não está má... mas para tratar dessa flor não precisamos de seus cuidados, não; tem entendido, senhor Belchior!...

- Perdão, senhor meu, - balbuciou o jardineiro erguendo-se trêmulo e confuso; - eu vinha trazer estas froles para os basos da sala...

- E apresentá-las de joelhos!... essa é galante!... Se continua nesse papel de galã, declaro-lhe que o ponho pela porta fora com dois pontapés nessa corcova. Corrido, confuso e azoinado, Belchior, cambaleando e esbarrando pelas cadeiras, lá se foi às cegas em busca da porta da rua.

- Isaura! ó minha Isaura! - exclamou Leôncio saindo da alcova, avançando com os braços abertos para a rapariga, e dando à voz até ali áspera e rude, a mais suave e tema inflexão. Um ai agudo e pungente, que ecoou pelo salão, o faz parar mudo, gélido e petrificado. Tinha avistado no meio da porta Malvina, que, pálida e desfalecida, ocultava a fronte no ombro de seu irmão, que a amparava nos braços.

- Ah! meu irmão! - exclamou ela voltando de seu delíquio, - agora compreendo tudo que ainda há pouco me dizias.

E com uma das mãos comprimindo o coração, que parecia querer-lhe estalar de dor, e com a outra escondendo no lenço as lágrimas, que dos formosos olhos lhe brotavam aos pares, correu a encerrar-se em seu aposento.





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