A Escrava Isaura - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 37 / 185

- Eis aqui ao que vim, senhor meu, - disse Miguel, tirando da algibeira de seu largo sobretudo uma carteira, que apresentou a Leôncio; - faça o favor de abrir esta carteira; aqui encontrará V. S.ª a quantia exigida pelo senhor seu pai, para a liberdade de uma escrava desta casa por nome Isaura. Leôncio enfiou, e tomando maquinalmente a carteira, ficou alguns instantes com os olhos pregados no teto.

- Pelo que vejo, - disse por fim, - o senhor deve ser o pai... aquele que dizem ser o pai da dita escrava. - é o senhor. - não me lembra o nome.

- Miguel, um criado de V. Sª.

- É verdade; o senhor Miguel. Folgo muito que tenha arranjado meios de libertar a menina; ela bem merece esse sacrifício.

Enquanto Leôncio abre a carteira, e conta e reconta mui pausadamente nota por nota o dinheiro, mais para ganhar tempo a refletir sobre o que deveria fazer naquelas conjunturas, do que para verificar se estava exata a soma, aproveitemo-nos do ensejo para contemplar a figura do bom e honrado português, pai da nossa heroína, de quem ainda não nos ocupamos senão de passagem.

Era um homem de mais de cinquenta anos; em sua fisionomia nobre e alerta transpirava a franqueza, a bonomia, e a lealdade.

Trajava pobremente, mas com muito alinho e limpeza, e por suas maneiras e conversação, conhecia-se que aquele homem não viera ao Brasil, como quase todos os seus patrícios, dominado pela ganância de riquezas. Tinha o trato e a linguagem de um homem polido, e de acurada educação. De feito Miguel era filho de uma nobre e honrada família de miguelistas, que havia emigrado para o Brasil. Seus pais, vítimas de perseguições políticas, morreram sem ter nada que legar ao filho, que deixaram na idade de dezoito a vinte anos.





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