A Escrava Isaura - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 40 / 185

- Senhor Miguel, - continuou em voz alta, entregando-lhe a carteira, - guarde por ora o seu dinheiro; Isaura não me pertence ainda; só meu pai pode dispor dela. Meu pai acha-se na corte, e não deixou-me autorização alguma para tratar de semelhante negócio. Arranje-se com ele.

- Mas V. S.ª é seu filho e herdeiro único, e bem podia por si mesmo...

- Alto lá, senhor Miguel! meu pai felizmente é vivo ainda, e não me é permitido desde já dispor de seus bens, como minha herança.

- Embora, senhor; tenha a bondade de guardar esse dinheiro e enviá-lo ao senhor seu pai, rogando-lhe da minha parte o favor de cumprir a promessa que me fez de dar liberdade a Isaura mediante essa quantia.

- Ainda pões dúvida, Leôncio?! - exclamou Malvina impaciente e indignada com as tergiversações do marido. - Escreve, escreve quanto antes a teu pai; não te podes esquivar sem desonra a cooperar para a liberdade dessa rapariga.

Leôncio, subjugado pelo olhar imperioso da mulher, e pela força das circunstâncias, que contra ele conspiravam, não pôde mais escusar-se. Pálido e pensativo, foi sentar-se junto a uma mesa, onde havia papel e tinta, e de pena em punho pôs-se a meditar em atitude de quem ia escrever. Malvina e Henrique, debruçados a uma janela, conversavam entre si em voz baixa. Miguel, sentado a um canto na outra extremidade da sala, esperava pacientemente, quando Isaura, que do quintal, onde se achava escondida, o tinha visto chegar, entrando no salão sem ser sentida, se lhe apresentou diante dos olhos. Entre pai e filha travou-se a meia voz o seguinte diálogo:

- Meu pai!... que novidade o traz aqui?... a modo que lhe estou vendo um ar mais alegre que de costume.

- Calada! - murmurou Miguel, levando o dedo à boca e apontando para Leôncio. - Trata-se da tua liberdade.

- Deveras, meu pai!... mas como pôde arranjar isso?





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