Coisas que só eu sei - Cap. 10: X Pág. 50 / 51

respeite cavalheiramente uma mulher que lhe pede com as mãos erguidas o favor, a piedade de a deixar sozinha com o segredo da sua desonra, que eu prometo nunca mais alargar a minha alma nestas revelações, que morreriam comigo, se eu pudesse suspeitar que atraía com elas a minha desgraça...

Henriqueta continuava, quando Carlos, com lágrimas de uma dor sincera, lhe pedia ao menos a sua estima, e lhe entregava as suas cartas, debaixo do sagrado juramento de nunca mais a procurar.

Henriqueta, entusiasmada pelo patético desta nobre rogativa, apertou ansiosamente a mão de Carlos, e despediram-se…

E nunca mais se viram.

Mas o leitor tem o direito a saber mais alguma coisa.

Carlos, um mês depois, partiu para Lisboa, colheu as necessárias informações, e entrou em casa da mãe de Henriqueta. Uma senhora, vestida de luto, e encostada a duas criadas, veio encontrá-lo numa sala.

- “Não tenho a honra de conhecer...” - disse a mãe de Henriqueta.

- “Sou um amigo...”

- “De meu filho?!...” - interrompeu ela. - “Vem-me dar parte do triste acontecimento?... Eu já o sei!... Meu filho é um assassino!...”

E prerrompeu num choro, que a não deixava articular palavras.

- “O filho de V. Exa assassino!...” - interpelou Carlos.

- “Sim... Sim... Pois não sabe que ele matou em Londres o sedutor da minha desgraçada filha?!... da minha filha... assassinada por ele...”

- “Assassinada, sim, mas só na sua honra” - atalhou Carlos.

- “Pois minha filha vive!... Henriqueta vive!... Oh meu Deus, meu Deus, eu vos agradeço!...”

A pobre senhora ajoelhou, as criadas ajoelharam com ela, e Carlos sentiu um calafrio nervoso, e uma exaltação religiosa, que quase o fizeram ajoelhar com aquele grupo de mulheres, cobertas de lágrimas...

Dias depois, Henriqueta era procurada no seu terceiro andar, por seu irmão, e choravam ambos abraçados com toda a expansão de uma dor represada.





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