A Verdade no Caso do Sr. Valdemar - Cap. 1: A verdade no caso do Sr. Valdemar Pág. 6 / 11

As pernas estavam perfeitamente estendidas, os braços repousavam sobre a cama, a pequena distância das coxas. A cabeça estava muito levemente soerguida.

Era quase meia-noite quando terminei e pedi então aos cavalheiros presentes que examinassem o Sr. Valdemar. Depois de algumas experiências admitiram que se encontrava num transe hipnótico invulgarmente perfeito. A curiosidade dos dois médicos ficou grandemente excitada. O Dr. D... resolveu ficar com o doente toda a noite e o Dr. F... despediu-se, prometendo regressar de manhãzinha. O Sr. L-1 e os enfermeiros ficaram também.

Deixámos o Sr. Valdemar num sossego perfeito até cerca das três da manhã, hora a que o fui encontrar precisamente no mesmo estado em que o Dr. F... o deixara, ou seja, continuava deitado exactamente na mesma posição; a respiração era suave (só se notava aplicando um espelho aos lábios); os olhos estavam fechados com naturalidade; e os membros rígidos e frios como mármore. Contudo, o aspecto geral não era certamente o da morte.

Ao aproximar-se do Sr. Valdemar fiz uma semitentativa de influenciar o seu braço direito em obediência ao meu, passando este suavemente sobre ele. Nas experiências anteriores com o paciente nunca fora inteiramente bem sucedido e é verdade que também desta vez não tinha grandes esperanças; mas para meu grande espanto o seu braço respondeu pronta, embora fracamente, ao meu e seguiu todos os movimentos que lhe indiquei. Resolvi experimentar uma breve conversa.

- Sr. Valdemar - disse -, está a dormir?

O doente não respondeu, mas reparei que os lábios lhe tremiam e isso levou-me a repetir a pergunta. À terceira vez todo o seu corpo se agitou como num ligeiro arrepio. As pálpebras abriram-se um pouco, mostrando uma linha branca do globo ocular; os lábios agitaram-se vagamente e num murmúrio quase inaudível pronunciaram estas palavras:

- Sim.





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