A verdade no caso do Sr. Valdemar O facto de o extraordinário caso do Sr. Valdemar ter excitado de tal modo a opinião pública não é, evidentemente, de espantar. Milagre seria se tal não acontecesse - especialmente devido às circunstâncias. Porque os interessados não desejavam dar publicidade ao caso, pelo menos de momento ou até terem ocasião de o investigar mais aprofundadamente, surgiu uma versão boateira e exagerada que deu origem a especulações muito desagradáveis e, muito naturalmente, a uma boa dose de desconfiança.
É, pois, necessário que estabeleça a verdade dos factos - na medida em que eu próprio os compreendi. Resumidamente, eis o que se passou:
Nos últimos três anos interessei-me bastante pelo hipnotismo. E, há cerca de nove meses, ocorreu-me bruscamente que na série de experiências feitas até então havia uma omissão estranha e inexplicável: ainda ninguém fora hipnotizado in articulo mortis. Não se sabia, pois, se, primeiro, nessas condições o paciente seria susceptível à influência magnética; em segundo lugar, se, em caso afirmativo, essa susceptibilidade era aumentada ou não pela situação; em terceiro lugar, até que ponto e durante quanto tempo a obra da Morte podia ser detida pelo processo. Havia outros pontos a serem esclarecidos, mas estes eram os que mais excitavam a minha imaginação - especialmente o último, pelas consequências imensamente importantes que podia vir a ter.
Ao procurar entre os meus conhecidos alguém em quem pudesse fazer a experiência, lembrei-me do meu amigo Ernest Valdemar, o conhecido organizado r da «Biblioteca Forensica» e autor (sob o pseudónimo de Issachar Marx) das versões polacas de Wallenstein e Gargântua. O Sr. Valdemar, cuja principal residência desde 1839 era Harlém, N.