A Origem da Tragédia - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 151 / 164

Ou o dramaturgo expunha uma mais grandiosa, pelo menos enervante tendência da atualidade política e social, tão claramente, que o ouvinte podia esquecer o seu cansaço crítico, entregando-se a afeições semelhantes às dos momentos patrióticos ou guerreiros; ou, diante da tribuna parlamentar, ou por ocasião da condenação do crime e do vício. Tal desvio das verdadeiras intenções artísticas conduziu, em certos casos, o verdadeiro culto da tendência. Aqui, aconteceu, porém, o que acontece com todas as artes artificiais: uma celérrima depravação daquelas tendências, de maneira que, para exemplificar, a tendência de empregar o teatro como instituição para a educação moral do povo, e que seriamente se empregava no tempo de Schiller, já se conta entre as incríveis antiguidades de uma cultura ultrapassada . Enquanto chegaram a dominar o crítico em teatro e concerto, o jornalista na escola, a imprensa na sociedade, degenerou a arte em um objeto de entretenimento da mais baixa qualidade, e principiou-se a empregar a crítica estética como meio de unificação de uma sociabilidade vaidosa, distraída, egoísta e, o que é mais, pobre e vulgar, cujo sentido é dado a conhecer por aquela parábola dos porcos-espinhos de Schopenhauer, de maneira a nunca se ter falado mais e entendido menos de arte. Mas será que ainda é possível ter relações com alguém, que seja capaz de conversar sobre Beethoven e Shakespeare? Que cada qual responda a esta pergunta segundo seus sentimentos; e demonstrará, com a resposta, o que entende por “cultura”, isto no caso de pelo menos, tentar responder ou de não o emudecer, a surpresa de tal pergunta.




Os capítulos deste livro