A Origem da Tragédia - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 71 / 164

Aquele que compreende o âmago da lenda de Prometeu — isto é a necessidade do delito, oferecida ao indivíduo que titanicamente se esforça — esse também deve, logicamente, entender o anti apolínico de tal ideia pessimista; pois Apolo deseja acalmar os indivíduos isolados, traçando linhas limítrofes entre os mesmos e lembrando repetidas vezes as mais sagradas leis universais, com suas exigências de conhecimento próprio e moderação. Para que, porém, com esta tendência apolínica, a forma não se inteiriçasse com a rigidez e frieza egípcia, para que, sob o esforço de prescrever à onda solitária o seu caminho e o seu terreno, não se acabe o movimento de todo o lago, destruía de tempos a tempos a corrente vigorosa do dionisíaco todos aqueles círculos diminutos, nos quais o principal “desejo” apolínico procurava encarcerar o helenismo. Aquela corrente do dionisíaco, engrossando repentinamente, toma sobre seus ombros aquelas pequenas ondas, assim como o irmão de Prometeu, o titã Atlas, o fez à terra. Este impulso dionisíaco de se tornar por assim dizer o Atlas de todos os isolados, e de os carregar com ombros largos, alto e mais alto, longe e mais longe, é o que há de comum entre o Prometeico e o dionisíaco. O Prometeu esquileico é, sob este ponto de vista, uma máscara dionisíaca, enquanto que naquele traço profundo de justiça, atrás mencionado, Ésquilo revela sua descendência paterna de Apolo, o deus da individualidade e dos limites da justiça. E assim poder-se-ia exprimir em fórmula inteligível a duplicidade do Prometeu esquileico, sua natureza ao mesmo tempo apolínica e dionisíaca: “Todo o existente é justo e injusto e igualmente legítimo em ambos”. Isto é um mundo! Isto se chama um mundo!





Os capítulos deste livro