A Origem da Tragédia - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 78 / 164

Não se ficou nesta alegria; aprendeu-se a falar com Eurípides, e ele disto se vangloriava na disputa com Ésquilo como, por seu intermédio, aprendeu o povo a observar, discutir, tirar conclusões artisticamente e com as mais sagazes sofisticações. Foi por esta mudança na linguagem pública, que ele possibilitou a comédia mais moderna, uma vez que, desde então, não era segredo como e com que sentenças poderiam representar-se no palco os acontecimentos cotidianos. A mediania burguesa, sobre a qual Eurípides construía todas as suas esperanças políticas, tomava agora a palavra, depois de terem fixado até então o caráter linguístico na tragédia o semi-deus e na comédia o sátiro embriagado ou semi-homem. E assim ressalta o Eurípides aristofânico, para sua glória, a maneira pela qual representou o viver e o agir comuns, cotidianos e conhecidos de todos. O fato de agora filosofar o povo todo, administrar com sagacidade inaudita as suas terras e os seus bens e manejar os seus processos, tudo isto é mérito dele e o sucesso da sabedoria, inoculada por ele neste mesmo povo.

A uma multidão de tal forma preparada e esclarecida se podia dirigir agora a nova comédia, para a qual, de certo modo, Eurípides se tornou corifeu. Apenas que desta vez teve de ser exercitado o coro dos espectadores. Logo que este adquiriu experiência no canto da espécie sonora euripedeica, levantou-se aquela espécie dramática, semelhante ao xadrez, a comédia mais moderna, com seu contínuo triunfo da esperteza e da astúcia. Eurípides porém — o corifeu — era elogiado interminavelmente; há quem se mataria para aprender ainda mais, se não soubesse terem os poetas trágicos morrido de forma idêntica à tragédia. Com ela, porém, abandonou o heleno a crença em sua imortalidade; não só a crença em um passado ideal, mas também a crença em um futuro ideal.





Os capítulos deste livro