A Origem da Tragédia - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 79 / 164

A palavra do conhecido epitáfio “....quando ancião, leviano e caprichoso”, aplica-se também ao helenismo decrépito. O momento, a graça, a leviandade, o capricho são suas maiores divindades; a quinta classe, a classe do escravo chega agora, pelo menos segundo o caráter, a dominar; e se ainda se pode falar em “alegria grega”, então é a alegria do escravo; escravo que não sabe responder por nada difícil, ambicionar nada de elevado, que não sabe estimar nem o passado e nem o futuro, mas só o presente. Foi este brilho da “alegria grega” contra o qual se insurgiram as naturezas profundas e terríveis dos quatro primeiros séculos do Cristianismo; a elas parecia esta fuga efeminada da seriedade e do medo, esta covarde autossuficiência no gozo cômodo, não somente desdenhável, mas como sendo o caráter eminentemente anticristão. E deve-se atribuir à sua influência que o conceito, que por séculos se formou da antiguidade grega, conservou com tenacidade quase insuperável aquela cor alegre de um vermelho pálido — como se nunca tivesse existido um sexto século, com sua origem da tragédia, seus mistérios, seu Pitágoras, seu Heráclito e mesmo como se não existissem as obras artísticas da época heroica, que de fato — cada uma por si — não são explicáveis se tomarmos por fundamento tal desejo decrépito de existência e alegria próprio de escravos, e que indica uma conceção totalmente diversa do mundo, como razão de existência.

Se se afirmou em último lugar, que foi Eurípides quem levou o espectador ao palco para, com isto, o tornar apto a julgar o drama, se origina a suposição de que a arte trágica anterior não conseguiu sair de uma desinteligência com o espectador, e é-se tentado a elogiar a tendência radical de Eurípides para estabelecer, entre obra de arte e público, uma relação correspondente, como sendo um progresso sobre Sófocles...





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