A Origem da Tragédia - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 96 / 164

Em verdade, para toda a posteridade, foi Platão o protótipo de uma nova forma artística, deu Platão o quadro exemplar do romance, que poderá ser considerado como a fábula esópica infinitamente aumentada, na qual vive a poesia, em confronto com a filosofia dialética, numa hierarquia semelhante à que foi vivida por muitos séculos, por esta mesma filosofia em confronto com a teologia: a saber, como “ancilla”. Foi esta a nova posição que a poesia foi obrigada a tomar por Platão, sob pressão de Sócrates demoníaco.

Aqui ultrapassa o pensamento filosófico a arte e a força, apegando-se estreitamente no tronco da dialética. No esquematismo lógico cristalizou-se a tendência apolínica; assim como verificámos em Eurípides algo semelhante e, ainda mais, uma transposição do dionisíaco na afeição naturalista. Sócrates, o herói dialético no drama platônico, lembra-nos a natureza parecida do herói euripidéico, que é obrigado a defender as suas ações por contrarrazões e razões, e que por isso corre frequentemente o perigo de perder o nosso trágico co-sofrer: pois quem desconheceria o elemento otimista no ser da dialética, que, em cada conclusão, festeja a sua festa de júbilo e que, somente consegue respirar em clareza fresca e convicção: o elemento otimista que, depois de penetrado na tragédia, deve vagarosamente cobrir as suas regiões dionisíacas impelindo-a necessariamente ao suicídio — com o salto mortal na comédia burguesa. Tenha-se presente a consequência das sentenças socráticas: “Virtude é saber; só se peca por ignorância; o virtuoso é o feliz”: nestas três formas fundamentais do otimismo temos a morte da tragédia.





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