A Mulher de Trinta Anos - Cap. 4: O dedo de Deus Pág. 127 / 205

tinha apenas um simples debruado a do mais pequenino era enfeitada de lindos bordados, que traíam um segredo do coração, uma predileção tácita que as crianças lêem na alma das mães como se tivessem em si o espírito de Deus. Descuidado e alegre, o lourinho parecia uma menina, tal era o frescor da sua pele branca, a graça dos seus movimentos, a suavidade da sua fisionomia; enquanto a mais velha, não obstante a energia que aparentava, a beleza das feições e o brilho da sua tez, lembrava um menino doentio. Seus olhos vivos, privados desse vapor úmido que dá tanto encanto aos olhares das crianças, dir-se-iam secos por um fogo interior. Enfim, sua brancura tinha um tom mate, oliváceo, sintoma de um vigoroso caráter. Por duas vezes o irmãozinho foi oferecer-lhe, com graça tocante, um olhar lindo, um gesto expressivo que teria encantado Carlinhos, a pequena trombeta de caça em que soprava de vez em quando; porém, ambas as vezes ela apenas respondera com um olhar feroz a esta frase: - Tome, Helena, você quer? - dita numa voz carinhosa. E, sombria e terrível sob uma aparência despreocupada, a pequena estremecia e corava até vivamente quando o irmão se acercava dela; mas o menino não parecia notar o mau-humor da irmã, e a sua indiferença de mistura com certo interesse acabam de fazer contrastar o verdadeiro caráter da infância com a ciência cuidadosa do homem, inscrita já no rosto da pequena, escurecendo-o com sombrias nuvens.

- Mamãe, a Helena não quer brincar - exclamou o menino, que aproveitou para se queixar um momento em que a mãe e o rapaz se achavam silenciosos na ponte dos Gobelins.

- Deixe-a, Carlos. Você bem sabe que ela está sempre zangada.

Essas palavras, proferidas ao acaso pela mãe, arrancaram lágrimas de Helena. Devorou-as





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