A Mulher de Trinta Anos - Cap. 4: O dedo de Deus Pág. 131 / 205

Uma discussão havia demorado a sobremesa, e os criados tardavam em servir o café. Esses incidentes, que tomavam um tempo sem dúvida precioso, impacientavam a senhora d’Aiglemont: poder-se-ia compará-la a um cavalo de raça escavando o chão antes da corrida. O notário, que nada sabia de cavalos e de mulheres, achava a marquesa simplesmente viva e buliçosa. Encantado por encontrar-se em companhia de uma senhora da sociedade elegante e de um político célebre, o notário mostrava-se espirituoso; tomava como aprovação o falso sorriso da marquesa, que cada vez mais se impacientava. Já o dono da casa, de acordo com sua companheira, tinha se permitido guardar silêncio por diferentes vezes, quando o notário esperava uma resposta lisonjeira; mas, durante esses silêncios significativos, o demônio do homem olhava para o fogo procurando anedotas. O diplomata correu ao relógio. Por último, a marquesa pusera o chapéu para sair, mas deixava-se ficar. O notário nada via nem entendia; estava encantado consigo mesmo e convencido de que interessava a senhora d’Aiglemont a ponto de não a deixar sair. “Terei certamente esta senhora por cliente”, pensava consigo.

A marquesa conservava-se de pé, punha as luvas, torcia os dedos e olhava alternadamente para o marquês de Vandenesse, que partilhava sua impaciência, e para o notário, que meditava nas suas tiradas. A cada pausa que o digno homem fazia, o lindo par respirava dizendo por um sinal: - Enfim, retira-se! - Mas qual! Era um pesadelo moral que devia acabar por irritar aqueles dois entes apaixonados, sobre os quais o notário atuava como uma serpente sobre os pássaros, e a obrigá-los a algum ato menos cortês. No melhor da narrativa, acerca dos ignóbeis meios pelos quais Tillet, homem de negócios então





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