A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 142 / 205

Só por si, Helena formava um espetáculo. Sua beleza distinguia-se por um caráter pouco vulgar de força e elegância. Embora penteada de molde a desenhar os traços vivos, a cabeleira era tão abundante que, rebelde aos dentes do pente, encrespava-se energicamente no ponto em que nasce o pescoço. As sobrancelhas, bastas e bem- desenhadas, realçavam a brancura da sua fronte casta. O lábio superior denotava energia, e o nariz era de delicada perfeição. Mas a elegância das formas, a cândida expressão das feições, a transparência de uma tez suave, a voluptuosa forma dos lábios, o oval do rosto e, principalmente, a santidade do seu olhar virgem imprimiam a essa vigorosa formosura a suavidade feminina, a modéstia encantadora que pedimos a esses anjos de paz e de amor. Porém nada havia de frágil naquela jovem, e seu coração devia ser tão meigo, a al ma tão forte como as suas proporções eram magníficas e seu rosto atraente. Imitava o silêncio do irmão liceano e parecia presa dessas fatais meditações de donzelas, muitas vezes impenetráveis à observação de um pai ou mesmo à sagacidade das mães: de sorte que era impossível saber se devia atribuir-se ao jogo da luz ou a íntimos desgostos as sombras caprichosas que lhe per passavam pelo rosto como nuvens ligeiras sobre um céu puro.

Os dois mais velhos eram, nesse momento, completamente esquecidos pelo marido e pela esposa. Contudo, já por várias vezes o olhar interrogador do general abraçara a cena muda que, no segundo plano, oferecia uma graciosa realização das esperanças escritas nos tumultos infantis que ocupavam o primeiro pia no desse quadro doméstico. Explicando a vida humana por insensíveis gradações, essas figuras compunham uma espécie de poema vivo. O luxo dos acessórios que ornavam o





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