A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 168 / 205

Esse homem era o marquês d’Aiglemont. A fortuna não fora surda aos rogos e esforços do seu desespero. Após cinco anos de tentativas e trabalhos penosos, vira-se possuidor de uma riqueza considerável. Na impaciência de tornar a ver sua terra e levar a felicidade à família, seguira o exemplo de alguns negociantes franceses de Havana, embarcando com eles num navio espanhol de carga para Bordeaux. Contudo, sua imaginação, fatigada de prever o mal, traçava-lhe as mais deliciosas imagens da sua felicidade passada. Vendo ao longe a linha escura descrita pela terra, julgava contemplar a mulher e os filhos. Achava-se no seu lugar, no lar, e sentia-se aí beijado, acariciado. Imaginava ver Moina, bela, crescida, imponente como uma jovem. Quando esse quadro fantástico adquiriu uma espécie de realidade, as lágrimas rolaram-lhe pelas faces; então, para ocultar sua perturbação, olhou para o horizonte úmido, oposto à linha brumosa que anunciava a terra.

- E ele - disse -, ele nos segue.

- Que é? - perguntou o capitão espanhol.

- Um navio respondeu o general em voz baixa.

- Já o vi ontem tornou o capitão Gomez, contemplando o francês como para interrogá-lo. - Tem- nos dado sempre caça - disse ao ouvido do general.

- E não sei por que motivo nunca se nos acercou - volveu o velho militar -; é muito melhor veleiro que seu condenado Saint-Ferdinand.

- Talvez tenha alguma avaria, um olho d’água.

- Está se aproximando - disse o francês.

- É um corsário colombiano - tornou-lhe o capitão ao ouvido. - Estamos ainda a seis léguas da terra e o vento enfraquece.

- Ele não anda, voa, como se soubesse que dentro de duas horas sua presa lhe terá fugido. Que ousadia!

- Ele? - volveu o capitão. - Ah!, não é sem razão que se chama Otelo. Ultimamente, meteu a pi que uma fragata espanhola, e contudo não tem mais de trinta canhões! Só dele eu tinha medo, pois não ignorava que cruzava nas Antilhas!.





Os capítulos deste livro