A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 169 / 205

.. Ah! Ah! - tornou depois de uma pausa, durante a qual olhou para as velas do seu navio -, o vento se eleva, chegaremos. É imperioso, o Parisiense seria implacável.

- Também ele chega! - replicou o marquês.

O Otelo não distava mais que três léguas. Apesar de o colóquio entre o capitão e o marquês não ter sido ouvido pela tripulação, a aparição daquela vela levara a maior parte dos passageiros e dos marinheiros para o lugar onde se achavam os dois interlocutores; mas quase todos, tomando o brigue por um navio mercante, observavam-no com interesse, quando, de súbito, um marinheiro exclamou:

- Por Deus!, estamos perdidos; é o capitão Parisiense!

A tal nome, o terror espalhou-se pelo brigue, e fez- se uma confusão impossível de descrever, O capitão espanhol infundiu com as suas palavras uma energia momentânea aos marinheiros; e, à vista do perigo, querendo chegar a terra por qualquer preço, mandou içar prontamente as pequenas velas altas e baixas a estibordo e bombordo, para apresentar ao vento toda a superfície de pano que guarnecia as vergas. Mas não foi sem grandes dificuldades que as manobras se realizaram; faltavam-lhes naturalmente aquela admirável sincronia de movimentos que tanto seduz nos navios de guerra. Ainda que o Otelo voasse como uma andorinha graças à orientação das suas velas, ganhava, contudo, tão pouco na aparência, que os infelizes franceses conservavam ainda uma doce ilusão. De repente, no momento em que, depois de enormes esforços, o Saint-Ferdinand tomava novo alento devido às hábeis manobras a que Gomez se associara com o gesto e com a voz - com um brusco movimento dado na cana do leme, voluntário por certo, o timoneiro pôs o brigue de través. As velas, fustigadas de lado pelo vento, bateram tão violentamente que ele ficou a contravento; as vergas suplementares romperam-se, e ele ficou descontrolado.





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