A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 183 / 205

- Não - respondeu o general. - Helena disse me tudo. Vejo que está perdida para nós...

- Não - replicou prontamente o corsário. - Mais alguns anos e a prescrição me permitirá voltar à França. Quando a consciência é pura, quando um homem, menosprezando as leis sociais, obedeceu... - Calou-se, desdenhando justificar-se.

- E como pode - interrogou o general - deixar de ter remorsos pelos novos assassínios que se cometeram à minha vista?

- Não tínhamos víveres - replicou sossegadamente o corsário.

- Mas desembarcando esses homens na costa...

- Nos cortariam a retirada com algum navio e não chegaríamos ao Chile.

- Antes que, da França - disse o general interrompendo-o -, tivessem prevenido o almirantado espanhol...

- Mas a França pode achar mau que um homem, sujeito ainda ao seu tribunal, se apoderasse de um brigue fretado por bordeleses. De resto, nunca lhe sucedeu, no campo de batalha, disparar alguns tiros a mais?

O general, intimidado pelo olhar do corsário, calou-se; a filha fitou-o com expressão de triunfo a que se mesclava certa melancolia.

- General - tornou o corsário com gravidade -, tenho como lei nunca tirar coisa alguma dos despojos do inimigo. Mas é fora de dúvida que a minha parte será mais considerável do que era a sua fortuna. Permita-me que lhe restitua noutra moeda...

Tirou da gaveta do piano um maço de notas, não contou os pacotes e presenteou um milhão ao general.

- Há de compreender - acrescentou - que não posso divertir-me olhando os que passam na rota de Bordeaux. Ora, a não ser que o seduzam os perigos da nossa vida de boêmios, as cenas da América meridional, as noites nos trópicos, as nossas batalhas e o prazer de fazer triunfar o pavilhão de uma nação nova ou o nome de Simon Bolívar, tem de nos deixar.





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