A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 185 / 205

O marinheiro, muito comovido, apresentou-lhe os filhos para que ele os abençoasse. Enfim, despediram- se, pela última vez, com um olhar não destituído de enternecimento.

- Sejam sempre felizes! - augurou o avô, dirigindo-se para o convés.

No mar, um espetáculo singular aguardava o general. O Saint -Ferdinand, posto em chamas, ardia como um imenso fogo de palha. Os marinheiros encarregados de destruir o brigue espanhol descobriram a seu bordo um carregamento de rum, líquido que abundava no Otelo, e acharam divertido acender um grande balde de ponche em pleno mar. Era um divertimento bastante perdoável, visto que a monotonia do mar fazia aproveitar todas as ocasiões de animar a vida. Descendo à chalupa do Saint -Ferdinand, tripulada por seis marinheiros vigorosos, o general partilhava involuntariamente sua atenção entre o incêndio do brigue e a filha encostada ao corsário, de pé à popa do seu navio. Em presença de tantas recordações, vendo o vestido branco de Helena que flutuava, como uma vela a mais; distinguindo no oceano essa bela e grande figura, bastante imponente para dominar tudo, mesmo o próprio mar, esquecia, com a indiferença de um militar, que vogava sobre o túmulo do bravo Gomez. Por cima da sua cabeça, pairava uma coluna de fumaça semelhante a uma nuvem pardacenta, a que os raios do sol, quando conseguiam penetrá-la, davam poéticos reflexos. Era um segundo céu, uma cúpula sombria sob a qual brilhavam espécies de lustres, tendo na parte superior o azul inalterável do firmamento, que parecia mil vezes mais belo, devido a essa efêmera oposição. As bizarras cores desse fumo, ora amarelo, ora castanho, ora vermelho, ora negro, que se fundiam vaporosamente, cobriam o navio, que rangia e estalava. A chama, mordendo as cordas, chiava como uma espécie de assobio e corria o navio como uma sedição popular voa pelas ruas de uma cidade.





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