A Mulher de Trinta Anos - Cap. 6: A velhice de uma mãe culpada Pág. 201 / 205

Esse exemplo, escolhido entre mil, só podia ferir o coração de uma mãe. Todos esses fatos teriam talvez escapado a um observador, pois só uma delicadeza de mulher poderia notá-los. Tendo a senhora d’Aiglemont dito um dia à filha que a princesa de Cadignan viera visitá-la, Moina exclamou simplesmente: - Como? Veio visitá-la? A expressão com que essas palavras foram ditas, o acento que a condessa lhes imprimiu, pintavam em tons ligeiros uma surpresa, um elegante descaso que faria os corações sempre jovens e ternos encontrarem filantropia no costume que têm os selvagens de matar seus velhos quando estes não mais conseguem sustentar-se no galho de urna árvore fortemente sacudida. A senhora d’Aiglemont levantou-se, sorriu e foi chorar em segredo. As pessoas bem-educadas, as mulheres sobretudo, não deixam transparecer seus sentimentos, senão por expressões imperceptíveis, mas que deixam adivinhar as vibrações dos seus corações àqueles que podem encontrar nas suas vidas situações análogas à dessa mãe mortificada. Oprimida com semelhantes lembranças, a marquesa d’Aiglemont recordou-se de um desses fatos microscópicos tão picantes, tão cruéis que nunca lhe haviam mostrado tão bem como naquele momento o desespero atroz oculto sob os sorrisos. Mas as lágrimas secaram-lhe quando ouviu abrirem as janelas do quarto onde a filha repousava. Dirigiu-se apressa da para ali, seguindo a alameda onde estivera senta da. Enquanto andava, notou o cuidado particular com que o jardineiro varrera essa rua, pouco tratada havia algum tempo. Quando a senhora d’Aiglemont chegava junto das janelas do quarto da filha, as persianas fecharam-se bruscamente.

- Moina! - chamou ela.

Não teve resposta.

- A senhora condessa acha-se na saleta - disse a criada de quarto de Moina, quando a marquesa perguntou se a filha estava levantada.





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