A Mulher de Trinta Anos - Cap. 6: A velhice de uma mãe culpada Pág. 202 / 205

A senhora d’Aiglemont tinha o coração repleto e a cabeça extremamente cheia de preocupações para poder pensar em circunstâncias tão insignificantes; passou rapidamente para a saleta, onde encontrou a condessa de penhoar, uma touca negligentemente jogada sobre a cabeleira em desordem, os pés nas pantufas, a chave do quarto na cintura, o rosto transido de pensamentos quase tempestuosos e cores animadas. Estava sentada num divã e parecia meditar.

- Que é? - perguntou com arrogância. - Ah, é minha mãe - tornou distraída.

- Sim, minha filha, é sua mãe...

O tom em que a senhora d’Aiglemont pronunciou tais palavras manifestou uma efusão de sentimentos e uma emoção íntima de que seria difícil dar uma idéia sem empregar a palavra santidade. Com efeito, revestira-se tão bem com o sagrado caráter de uma mãe que a filha notou e voltou-se para ela num movimento que exprimia ao mesmo tempo o respeito, a inquietação e o remorso. A marquesa fechou a porta da saleta, onde ninguém podia entrar sem fazer ruído nos quartos contíguos; assim estava garantida de qualquer indiscrição.

- Minha filha - disse a marquesa -, é meu de ver esclarecer-lhe uma das crises mais importantes da nossa vida de mulher e em que você se encontra sem o saber talvez, mas de que venho falar-lhe mais como amiga do que como mãe. Casando-se, você se tornou senhora das suas ações, de que só a seu marido você tem de dar contas; mas fiz-lhe sempre sentir tão pouco a autoridade materna (e foi talvez um erro) que me julgo no direito de fazer com que me ouça, uma vez pelo menos, na grave situação em que deve carecer de conselho. Reflita, Moina, que você se casou com um homem de alto valor, de quem pode estar orgulhosa, que...

- Minha mãe - exclamou Moina, rebelde, interrompendo-a -, já sei o que quer dizer-me.





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