A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 23 / 205

- Vamos, pois, travar conhecimento, minha queridinha? - perguntou a condessa. - Não se assuste muito comigo; sempre que me encontro com gente nova, procuro não ser velha.

Antes de entrar no salão, a condessa, segundo o hábito da província, dera ordens para o almoço dos seus dois hóspedes; porém, o conde interrompeu a eloqüência da tia, dizendo-lhe muito seriamente que só podia dispensar-lhe o tempo que o postilhão levaria para mudar os cavalos. Portanto, dirigiram-se imediatamente à sala de jantar, e o coronel teve apenas o tempo necessário para narrar à tia os acontecimentos políticos e militares que o obrigavam a pedir-lhe abrigo para sua jovem esposa. Entrementes, a tia olhava alternadamente para o sobrinho, que falava sem ser interrompido, e para a sobrinha, cuja palidez e tristeza pareceram-lhe causadas por aquela separação, e dizia intimamente: “Ah! Estes amam-se de verdade”.

- Adeus, minha querida - disse ele beijando a mulher, que o seguira até o pátio.

- Oh!, Victor, deixe-me acompanhar-lhe um pouco mais longe - pedia Júlia, carinhosa -, não queria deixar-lhe...

- Você pensa nisso?

- Bem, adeus - replicou Júlia -, já que você quer assim.

A carruagem desapareceu.

Você ama muito o meu pobre Victor? - perguntou a condessa à sobrinha, interrogando-a com um desses olhares perscrutadores que as velhas lançam às jovens.

- Ai!, minha senhora - respondeu Júlia -, não é preciso amar um homem para desposá-lo?

Essa última frase foi acentuada por um tom de ingenuidade que traía ao mesmo tempo um coração puro ou mistérios profundos. Ora, seria bem difícil a uma mulher, amiga de Duclos e do marechal de Richelieu, não procurar adivinhar o segredo daquele casal. A tia e a sobrinha, ainda junto ao portão, achavam-se entretidas a ver a caleça que se afastava.





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