A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 65 / 205

Mas quem ousaria censurá-las? Quando elas impuseram silêncio ao sentimento exclusivo que não lhes permite pertencer a dois homens, não são como padres sem crença? Se alguns espíritos austeros censuram a espécie de transação concluída por Júlia entre os seus deveres e o seu amor, as almas apaixonadas farão disso um crime. Essa reprovação geral acusa ou a infelicidade que aguarda as desobediências às leis, ou então tristíssimas imperfeições nas instituições sobre as quais repousa a sociedade européia.

Dois anos se passaram, durante os quais o senhor e a senhora d’Aiglemont viveram como é de praxe na sociedade, indo cada um para o seu lado, encontrando-se mais vezes nos salões que em sua própria casa; elegante divórcio pelo qual terminam muitos casamentos na alta roda. Uma noite, por milagre, os dois esposos achavam-se reunidos no seu salão. A senhora d’Aiglemont recebera uma das suas amigas para jantar. O general, que jantava sempre na cidade, por esse motivo ficara em casa.

- Vai ficar muito contente, senhora marquesa - disse o senhor d’Aiglemont, pondo sobre a mesa a xícara em que bebera o café. O marquês olhou para a senhora de Wimphen de um jeito entre malicioso e triste e acrescentou:

- Vou partir para uma longa caçada, na qual acompanho o monteiro-mor. Durante oito dias, pelo menos, estará completamente viúva e é o que deseja, creio eu... Guilherme - disse ao criado que apareceu para apanhar as xícaras -, mande atrelar.

A senhora de Wimphen era aquela Luísa a quem a senhora d’Aiglemont quisera, outrora, aconselhar o celibato. As duas mulheres trocaram um olhar de inteligência, que provava que Júlia tinha achado na amiga uma confidente dos seus sofrimentos, confidente preciosa e caritativa, porque a senhora de Wimphen era muito feliz com o marido; e, na situação oposta em que se encontravam, talvez a felicidade de uma fosse garantia da sua dedicação à desgraça da outra.





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