A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 8 / 205

A França ia apresentar suas despedidas a Napoleão, na véspera de uma campanha cujos perigos eram previstos pelo último dos cidadãos. Tratava-se agora, para o império francês, de ser ou não ser. Tal pensamento parecia animar a multidão civil e a militar, que se apinhava, igualmente silenciosa, no recinto onde pairavam a águia e o gênio de Napoleão. Esses soldados, esperança da França, esses soldados, sua última gota de sangue, eram também objeto da inquieta curiosidade dos espectadores. Entre a maior parte dos assistentes e dos militares, dizia-se um adeus que seria talvez eterno; porém, todos os corações, mesmo os mais hostis ao imperador, dirigiam ardentes votos ao céu pela glória da pátria. Os homens mais cansados da luta travada entre a Europa e a França haviam todos depostos os seus ódios ao passar sob o arco do triunfo, compreendendo que, no dia do perigo, Napoleão era toda a França. O relógio do castelo bateu meia hora. Neste momento, cessou o rumor da multidão, e o silêncio tornou-se tão profundo que poderia ouvir-se a voz de uma criança. O ancião e sua filha, que pareciam viver pelos olhos, distinguiram então um ruído de esporas e um tinir de espadas que ecoaram sob o sonoro peristilo do castelo.

Um homenzinho bastante gordo, de uniforme verde, calças brancas e botas de montaria, apareceu de súbito, tendo na cabeça um chapéu de três bicos tão prestigioso como a sua própria pessoa; flutuava-lhe no peito a larga fita vermelha da Legião de Honra, e da cintura pendia-lhe um espadim. O homem foi visto por todos, e ao mesmo tempo, de todos os pontos da praça. No mesmo instante, rufaram os tambores, as duas orquestras começaram por uma frase cuja expressão guerreira foi repetida por todos os instrumentos, desde a flauta mais suave até o maior dos tambores.





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