A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 9 / 205

A esse belicoso apelo, as almas estremeceram, as bandeiras saudaram, os soldados apresentaram armas num movimento unânime e regular que agitou as espingardas desde a primeira à última fila do Carrousel. As vozes de comando repetiram-se de fila em fila como um eco. Gritos de “Viva o imperador!” foram levantados pela multidão entusiasmada. Enfim, tudo estremeceu, tudo se moveu, tudo se agitou. Napoleão montara o cavalo. Esse movimento dera vida àquelas massas silenciosas, voz aos instrumentos, vôo às águias e às bandeiras, emoção a todos os rostos. As paredes das altas galerias daquele velho castelo pareciam gritar também:

“Viva o imperador!”. Não foi algo de humano, foi uma magia, um simulacro do poder divino, ou melhor, uma fugidia imagem desse fugidio reino. O homem cercado de tanto amor, dedicação, entusiasmo, votos, para quem o sol dispersara as nuvens do céu, permaneceu no seu cavalo, três passos à frente do pequeno esquadrão dourado que o seguia, tendo o grão-marechal à sua esquerda, e à direita o marechal de serviço. Em meio a tantas emoções que ele excitara, nenhum traço do seu rosto parecia alterado.

- Oh! meu Deus, sim. Em Wagran no meio do fogo, em Moscou entre os mortos, ele está sempre tranqüilo como o Batista.

Essa resposta a inúmeras interrogações era dada pelo granadeiro, que se achava ao lado da jovem. Júlia conservou-se durante um momento absorta na contemplação daquele rosto, cuja serenidade indicava tão grande segurança de poder. O imperador avistou a senhorita de Chatillonest e inclinou-se para Duroc, dizendo-lhe uma curta frase que fez sorrir o grão-marechal. As manobras começaram. Se até então a mocinha partilhara a sua atenção entre o rosto impassível do imperador e as linhas azuis, verdes e vermelhas





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