A Decadência da Mentira - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 21 / 42

Quem foi ele que foi o primeiro que, sem ter nunca saído à rude caça, contou ao perdido homem da caverna, ao pôr-do-sol, como ele arrastou o megatério da roxa escuridão de sua rubra caverna, ou assassinou o mamute num único combate e retornou com suas belas presas, não podemos dizer, e nenhum de nossos antropólogos modernos, com toda sua ufana ciência, teve a vulgar coragem de nos contar.

Qualquer que tenha sido seu nome ou raça, ele certamente foi o verdadeiro descobridor da comunicação social. Pois o objetivo do mentiroso é simplesmente encantar, deleitar, dar prazer. Ele é a base da civilização, e sem ele um jantar, mesmo nas melhores mansões, é tão entediante quanto uma palestra no Royal Society, ou um debate no Incorporated Authors, ou uma das ridículas comédias do Sr. Burnand. “Nem será ele acolhido pela sociedade apenas. A Arte, fugindo da prisão do realismo, correrá para cumprimentá-lo, e beijará seus falsos, belos lábios, sabendo que ele sozinho está em posse do grande segredo de todas as suas manifestações, o segredo de que a Verdade é inteira e absolutamente uma questão de estilo; enquanto a Vida – a pobre, provável, desinteressante vida humana – cansada de se repetir pelo benefício do Sr. Herbert Spencer, historiadores, e os compiladores de estatísticas em geral, irá humildemente segui-lo, e tentará reproduzir, no simples e ingênuo jeito dela, algumas das maravilhas de que ele fala.





Os capítulos deste livro