A Decadência da Mentira - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 23 / 42

Ela é um véu, em vez de um espelho. Ela tem flores que nenhuma floresta conhece, pássaros que nenhum bosque possui. Ela faz e desfaz vários mundos, e pode tirar a lua do céu com um fio de linha escarlate. São dela as ‘formas mais reais que o vivo homem’, e os grandes arquétipos, dos quais coisas que têm existência não são mais do que cópias inacabadas. A Natureza não tem, aos olhos dela, nenhuma lei, nenhuma uniformidade. Ela pode fazer milagres sob sua vontade, e quando ela chama monstros das profundezas eles vêm. Ela pode fazer a amendoeira florescer no inverno, e jogar neve sobre o milharal na colheita. Uma palavra dela e a geada deita seu dedo prateado na boca ardente de Junho, e os leões alados saem dos buracos das colinas lídio. As dríades, assomam na mata quando ela passa, e os faunos marrons sorriem diferente quando ela deles se aproxima. Ela tem deuses com face de falcão que a adoram, e os centauros galopam ao seu lado.”

Cyril – Gosto disso. Eu posso vê-lo. É esse o fim?

Vivian – Não. Há ainda uma passagem, mas é puramente prática. Simplesmente sugere alguns métodos pelos quais poderíamos reviver essa perdida arte da Mentira.

Cyril – Bem, antes que a leia, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta. O que você quer dizer ao falar que a vida, “pobre, provável, desinteressante vida humana”, tentará reproduzir as maravilhas da arte? Eu bem posso entender sua objeção em a arte ser como um espelho. Você acha que reduziria o gênio à posição de um espelho rachado. Mas você não está dizendo que realmente acredita que a Vida imita a Arte, que a Vida que é o espelho, e a Arte a realidade?

Vivian – Certamente que sim. Ideia paradoxal, pode parecer – e paradoxos são sempre coisas perigosas – é, no entanto, verdade que a Vida imita a arte bem mais do que a Arte imita a vida.





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