A Decadência da Mentira - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 36 / 42

Ou, para retornar novamente ao passado, tome como outro exemplo os antigos gregos. Você acha que a arte grega alguma vez nos diz como era o povo grego? Você acredita que as mulheres atenienses eram como as figuras majestosamente augustas do friso do Partenon, ou como aquelas deusas maravilhosas que sentavam nos frontões triangulares da mesma edificação? Se julgar pela arte, elas certamente o eram. Mas leia uma autoridade, como Aristófanes, por exemplo. Descobrirá que as damas atenienses usavam espartilho justo, calçavam sapatos de salto alto, tingiam seu cabelo louro, pintavam e passavam rouge em suas faces, e eram exatamente como qualquer criatura tolamente na moda ou caída de nossos dias. O fato é que olhamos para trás no tempo inteiramente por meio da arte, e a arte, bem felizmente, nem uma vez nos disse a verdade.

Cyril – Mas os retratos modernos feitos por pintores ingleses, e eles? Certamente eles são como as pessoas que fingem representar?

Vivian – Bastante. Eles são tão como elas que daqui a cem anos ninguém acreditará neles. Os únicos retratos em que se acredita são retratos onde há muito pouco do representado, e bastante do artista. Os desenhos de Holbein do homem e da mulher de seu tempo nos impressionam com um sentimento de sua absoluta realidade. Mas isso é unicamente porque Holbein compeliu a vida a aceitar suas condições, a se restringir dentro das limitações dele, a reproduzir seu tipo, e a aparecer como ele desejasse que aparecesse. É o estilo que nos faz acreditar em algo – nada além do estilo. A maioria de nossos pintores modernos de retratos estão fadados ao absoluto esquecimento. Eles nunca pintam o que veem. Pintam o que o público vê, e o público nunca vê nada.





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