A Decadência da Mentira - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 6 / 42

Como se conhece o poeta por sua boa música, também pode-se reconhecer o mentiroso por sua rica eloquência rítmica, e em nenhum dos dois casos a casual inspiração do momento será suficiente. Aqui, como em qualquer outro caso, a prática faz a perfeição. Mas nos dias de hoje, enquanto a moda de escrever poesia tem-se tornado comum demais, e devia, se possível, ser desencorajada, a moda de mentir já quase perdeu o prestígio. Um jovem começa na vida com um dom natural para o exagero que, se nutrido em ambientes apropriados e solidários, ou pela imitação dos melhores modelos, pode crescer para ser algo realmente ótimo e maravilhoso. Mas, como regra, ele não chega a nada. Ele ou cai em descuidados atos de precisão –“

Cyril- Meu querido amigo!

Vivian- Por favor, não interrompa no meio da frase. “Ele ou cai em descuidados atos de precisão, ou se atrai a frequentar a sociedade dos de idade ou dos bem-informados. Ambas as coisas são igualmente fatais para sua imaginação, como na verdade seriam fatais à imaginação de qualquer um, e em pouco tempo ele desenvolve uma mórbida e insalutar faculdade de dizer a verdade, começa a verificar todas as declarações feitas em sua presença, não hesita em contradizer pessoas que são bem mais jovens que ele, e muitas vezes termina escrevendo romances que são tão como a vida que ninguém pode acreditar serem prováveis. Esse não é nenhum exemplo isolado que estamos dando. É simplesmente um exemplo de muitos; e se alguma coisa não pode ser feita para pôr fim, ou ao menos modificar, a nossa monstruosa adoração dos fatos, a Arte se tornará estéril, e a beleza passará longe da Terra.





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