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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 10
fundos de minha casa! quando você, aliás, dispõe de tanto espaço ainda!

— Hei de lhe mostrar se tenho ou não o que fazer ali!

— É que você é teimoso! Olhe, se me cedesse as dez braças do fundo, a sua parte ficaria cortada em linha reta até à pedreira, e escusava eu de ficar com uma aba de terreno alheio a meter-se pelo meu. Quer saber? não amuro o quintal sem você decidir-se!

— Então ficará com o quintal para sempre sem muro, porque o que tinha a dizer já disse!

— Mas, homem de Deus, que diabo! pense um pouco! Você ali não pode construir nada! Ou pensará que lhe deixarei abrir janelas sobre o meu quintal!...

— Não preciso abrir janelas sobre o quintal de ninguém!

— Nem tampouco lhe deixarei levantar parede, tapando-me as janelas da esquerda!

— Não preciso levantar parede desse lado...

— Então que diabo vai você fazer de todo este terreno?...

— Ah! isso agora é cá comigo!... O que for soará!

— Pois creia que se arrepende de não me ceder o terreno!...

— Se me arrepender, paciência! Só lhe digo é que muito mal se sairá quem quiser meter-se cá com a minha vida!

— Passe bem!

— Adeus!

Travou-se então uma lata renhida e surda entre o português negociante de fazendas por atacado e o português negociante de secos e molhados. Aquele não se resolvia a fazer o muro do quintal, sem ter alcançado o pedaço de terreno que o separava do morro; e o outro, por seu lado, não perdia a esperança de apanhar-lhe ainda, pelo menos, duas ou três braças aos fundos da casa; parte esta que, conforme os seus cálculos, valeria ouro, uma vez realizado o grande projeto que ultimamente o trazia preocupado — a criação de uma estalagem em ponto enorme, uma estalagem monstro, sem exemplo, destinada a matar toda aquela miuçalha de cortiços que alastravam por Botafogo.

Era este o seu ideal. Havia muito que João Romão vivia exclusivamente para essa ideia; sonhava com ela todas as noites; comparecia a todos os leilões de materiais de construção; arrematava madeiramentos já servidos; comprava telha em segunda mão;

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pág. 10 (Capítulo 1)

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Capa do livro O Cortiço
Páginas: 239
Página atual: 10

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 16
Capítulo 3 27
Capítulo 4 39
Capítulo 5 47
Capítulo 6 53
Capítulo 7 61
Capítulo 8 76
Capítulo 9 89
Capítulo 11 126
Capítulo 12 138
Capítulo 13 147
Capítulo 14 156
Capítulo 15 165
Capítulo 16 175
Capítulo 17 186
Capítulo 18 190
Capítulo 19 196
Capítulo 20 208
Capítulo 21 216
Capítulo 22 227
Capítulo 23 234