Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: Capítulo 1

Página 9
tivessem crucificado na cama.

A partir dessa noite, da qual só pela manhã o Miranda se retirou do quarto da mulher, estabeleceu-se entre eles o hábito de uma felicidade sexual, tão completa como ainda não a tinham desfrutado, posto que no intimo de cada um persistisse contra o outro a mesma repugnância moral em nada enfraquecida.

Durante dez anos viveram muito bem casados; agora, porém, tanto tempo depois da primeira infidelidade conjugal, e agora que o negociante já não era acometido tão frequentemente por aquelas crises que o arrojavam fora de horas ao dormitório de Dona Estela; agora, eis que a leviana parecia disposta a reincidir na culpa, dando corda aos caixeiros do marido, na ocasião em que estes subiam para almoçar ou jantar.

Foi por isso que o Miranda comprou o prédio vizinho a João Romão.

A casa era boa; seu único defeito estava na escassez do quintal; mas para isso havia remédio: com muito pouco compravam-se umas dez braças daquele terreno do fundo que ia até à pedreira, e mais uns dez ou quinze palmos do lado em que ficava a venda.

Miranda foi logo entender-se com o Romão e propôs-lhe negócio. O taverneiro recusou formalmente.

Miranda insistiu.

— O senhor perde seu tempo e seu latim! retrucou o amigo de Bertoleza. Nem só não cedo uma polegada do meu terreno, como ainda lhe compro, se mo quiser vender, aquele pedaço que lhe fica ao fundo da casa!

— O quintal?

— É exato.

— Pois você quer que eu fique sem chácara, sem jardim, sem nada?

— Para mim era de vantagem...

— Ora, deixe-se disso, homem, e diga lá quanto quer pelo que lhe propus.

— Já disse o que tinha a dizer.

— Ceda-me então ao menos as dez braças do fundo.

— Nem meio palmo!

— Isso é maldade de sua parte, sabe? Eu, se faço tamanho empenho, é pela minha pequena, que precisa, coitada, de um pouco de espaço para alargar-se.

— E eu não cedo, porque preciso do meu terreno!

— Ora qual! Que diabo pode lá você fazer ali? Uma porcaria de um pedaço de terreno quase grudado ao morro e aos

<< Página Anterior

pág. 9 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Cortiço
Páginas: 239
Página atual: 9

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 16
Capítulo 3 27
Capítulo 4 39
Capítulo 5 47
Capítulo 6 53
Capítulo 7 61
Capítulo 8 76
Capítulo 9 89
Capítulo 11 126
Capítulo 12 138
Capítulo 13 147
Capítulo 14 156
Capítulo 15 165
Capítulo 16 175
Capítulo 17 186
Capítulo 18 190
Capítulo 19 196
Capítulo 20 208
Capítulo 21 216
Capítulo 22 227
Capítulo 23 234