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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 142
sabendo que uma mulher direita não deve olhar se não pra seu marido; e que, se ela não fosse tão maluca...

— Já aí vai você repetir inda uma vez a mesma cantiga!...

— Mas diga-lhe sempre, tenha paciência, Nhã Pombinha!... Que ainda estaria aqui, comigo, como dantes, sem aguentar repelões de estranhos!...

— Adiante, Bruno!

— Diga-lhe...

E interrompeu-se.

Ora, que mais ele tinha a dizer?...

Coçou a cabeça.

— Veja, Bruno, você é quem sabe o que precisa escrever a sua mulher...

— Diga-lhe...

Não se animava.

— Que...

— Diga-lhe... Não! não lhe diga mais nada!...

— Posso então fechar a carta?...

— Está bom... resmungou o ferreiro, decidindo-se. Vá lá! Diga-lhe que...

— Que...

Houve um silêncio, no qual o desgraçado parecia arrancar de dentro uma frase que, no entanto, era a única ideia que o levava a dirigir-se à mulher. Afinal, depois de coçar mais vivamente a cabeça, gaguejou com a voz estrangulada de soluços:

— Diga-lhe que... se ela quiser tornar pra minha companhia... que pode vir... Eu esqueço tudo!

Pombinha, impressionada pela transformação da voz dele, levantou o rosto e viu que as lágrimas lhe desfilavam duas a duas, três a três, pela cara, indo afogar-se-lhe na moita cerdosa das barbas. E, coisa estranha, ela, que escrevera tantas cartas naquelas mesmas condições; que tantas vezes presenciara o choro rude de outros muitos trabalhadores do cortiço, sobressaltava-se agora com os desalentados soluços do ferreiro.

Porque, só depois que o sol lhe abençoou o ventre; depois que nas suas entranhas ela sentiu o primeiro grito de sangue de mulher, teve olhos para essas violentas misérias dolorosas, a que os poetas davam o bonito nome de amor. A sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara inesperadamente, atingindo de súbito, em pleno desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e surpreendia. Não a comovera tanto a revolução física Como que naquele instante o mundo inteiro se despia à sua vista, de improviso esclarecida, patenteando-lhe todos os segredos das suas paixões.

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Capa do livro O Cortiço
Páginas: 239
Página atual: 142

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 16
Capítulo 3 27
Capítulo 4 39
Capítulo 5 47
Capítulo 6 53
Capítulo 7 61
Capítulo 8 76
Capítulo 9 89
Capítulo 11 126
Capítulo 12 138
Capítulo 13 147
Capítulo 14 156
Capítulo 15 165
Capítulo 16 175
Capítulo 17 186
Capítulo 18 190
Capítulo 19 196
Capítulo 20 208
Capítulo 21 216
Capítulo 22 227
Capítulo 23 234