» Vasco de Seabra perseguia-me: as cartas eram incessantes, e a grande paixão que elas exprimiam não era ainda igual à paixão que me faziam.
» Meu irmão quis tirar-me de Lisboa, e minha mãe instava pela saída, ou pela minha entrada a toda a pressa nas Salésias. Informei Vasco das intenções de minha família.
» No mesmo dia, este homem, que me pareceu um cavalheiro digno de outra sociedade, entrou em minha casa, pediu-me urbanamente a minha mãe, e foi urbanamente repelido. Eu soube-o, e torturei-me! Não sei do que seria então capaz a minha alma ofendida! Sei que foi capaz de tudo que pode caber em forças de uma mulher, contrariada nas ambições que nutrira, sozinha consigo, e conjurada a perder-se por elas.
» Vasco, irritado num nobre estímulo, escreveu-me, como quem me pedia a mim a satisfação dos desprezos da minha família. Respondi-lhe que lha dava plena, como ele a exigisse. Disse-me que fugisse de casa, pela porta da desonra, e muito cedo entraria nela com a minha honra ilibada. Que desgraça! Naquele tempo até as pompas de estilo me seduziam!... Respondi que sim, e cumpri.
» Meu amigo Carlos. Vai longa a carta, e a paciência é curta. Até ao correio que vem.
Henriqueta.”