» Aquelas linhas fastidiosas são a história da minha transfiguração. Aí principia a longa noite da minha vida.
» Nos dias imediatos, a horas certas, vi sempre este homem. Concebi os perigos da minha fraqueza, e quis ser forte. Resolvi não vê-lo mais: revesti-me de um orgulho digno da minha imodesta superioridade às outras mulheres: sustentei este carácter dois dias; e, ao terceiro, era fraca como todas as outras.
» Eu já não podia divorciar-me da imagem daquele homem, daquelas núpcias infelizes que meu coração contraíra. O meu instinto não era mau; porque a educação tinha sido boa; e, não obstante a humildade constante com que sempre sujeitei a minha mãe os meus inocentíssimos desejos, senti-me então, com mágoa minha, rebelde, e capaz de conspirar contra a minha família.
» A frequente repetição dos passeios de Vasco não podia ser indiferente a meu irmão. Fui suavemente interrogada por minha mãe a tal respeito, respondi-lhe com respeito, mas sem temor. Meu irmão pressentiu a necessidade de matar aquela inclinação nascente, e expôs-me um quadro feio dos costumes péssimos de Vasco, e o conceito público em que era tido o primeiro homem a quem eu tão francamente me oferecia em namoro. Fui altiva com o meu irmão, e adverti-lhe que os nossos corações não tinham contraído a obrigação de se consultarem.
» Meu irmão sofreu; eu também sofri; e, passado o momento da exaltação, quis cerrar a ferida que abrira naquele coração, desde a infância identificado com as minhas vontades.
» Este sentimento era nobre; mas o do amor não era inferior. Se eu pudesse reconciliá-los ambos! Não podia, nem sabia fazê-lo! Uma mulher, quando principia a sua dolorosa tarefa do amor, não sabe mentir com aparências, nem calcula os prejuízos que pode evitar com um pouco de impostura.