Desgraça foi para Laura, quando os melhores campeões se retiraram fatigados da liça. Os que vieram depois eram bisonhos no jogo das armas, e viram que a dama das justas já não valia a pena de perigosos botes de lança e de arreios muito custosos de pedraria e ouro.
Pobre Laura, apeada do seu pedestal, olhou-se a um espelho, viu-se ainda bela com vinte e cinco anos, e perguntou à sua consciência a baixa do preço com que corria no leilão de mulheres. A consciência respondeu-lhe que descesse da altura das suas ambições, que viesse para onde a chamava a lógica de sua vida, e continuaria a ser rainha num reino de segunda ordem, já que a exautoravam de um trono que tivera na primeira.
Laura desceu, e encontrou uma sociedade nova. Aclamaram-na soberana, reuniu-se uma corte tumultuosa na antecâmera desta odalisca fácil, e não houve grande nem pequeno a quem se baixassem os reposteiros do trono.
Laura viu-se um dia abandonada. Viera uma outra disputar-lhe a sua legitimidade. Os cortesãos voltaram-se para o sol nascente, e apedrejaram, como os Incas, o astro que se escondia para alumiar os antípodas de um outro mundo.
Os antípodas de um outro mundo eram uma sociedade inculta, sem a inteligência da arte, sem o culto à formosura, sem as opulências que o ouro cria nas altas regiões da civilização, e, finalmente, sem algum dos atributos que Laura amara tanto nos mundos onde fora soberana duas vezes.
A infeliz tinha descido ao derradeiro grau de aviltamento; mas era bela ainda.
Sua mãe, enferma num hospital, pedia a Deus, como esmola, a sua morte. A desgraçada foi punida.
No hospital, viu passar sua filha diante do seu leito; pediu que a deitassem ao pé de si; o enfermeiro riu-se, e entrou com ela noutra enfermaria, onde o anjo do pudor e das lágrimas cobriam o rosto na presença da úlcera mais esquálida e mas lastimosa do género humano.