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Capítulo 7: VII

Página 34

Laura principiava a sondar a profundidade do abismo em que caíra.

Sua mãe recordava as fomes de outro tempo, quando sua filha, virgem ainda, chorava e suplicava, com ela, uma esmola ao passageiro.

As privações de então eram semelhantes às privações de agora, com a diferença, porém, que a Laura de hoje, desonrada e repelida, não podia já prometer o futuro da Laura de então.

Agora, Carlos, vejamos o que é o mundo, e pasmemos diante das evoluções ginásticas dos acontecimentos.

Aparece em Lisboa um capitalista, que chama a atenção dos capitalistas, a consideração do Governo, e, por via de regra, desafia inimizades políticas e invejas, que procuram o seu princípio de vida para denegrir-lhe o luzimento da sua afrontosa opulência.

Este homem compra uma quinta na província do Minho, e, mais barato ainda, compra o título de visconde do Prado.

Um jornal de Lisboa, que traz entre os dentes venenosos da política o pobre visconde, escreve um dia um artigo, onde se acham, entre muitas, as seguintes alusões:

O Sr. Visconde do Prado adscreveu à imoralidade do Governo a imoralidade de sua fortuna. Como ela foi adquirida, di-lo-iam as costas de África se os sertões contassem os horrorosos dramas da escravatura, em que o Sr. Visconde foi herói…

» O Sr. Visconde do Prado era António Alves há 26 anos, e a pobre mulher que deixou em Portugal, com uma tenra filhinha ao colo, ninguém dirá em que rua morreu de fome sobre as lajes, ou em que água-furtada curtiam ambas as agonias da fome, enquanto o Sr. Visconde medrava cinicamente na hidropisia do ouro, com que hoje vem arrotar moralidades no teatro das suas infâmias de esposo e de pai…

» Melhor fora que o Sr. Visconde indagasse onde repousam os ossos de sua mulher e de sua filha, e nos pusesse aí um padrão de mármore, que possa atestar ao menos o remorso de um infame contrito.

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 34

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46