Tão-só o seu rosto lhe ficara gravado na memória: as faces cheias, coradas, a expressão imutável, estática, o nariz comprido e rectilíneo, os olhos fixos que o encimavam. Tudo aquilo de que se lembrava era do modo como ele ria, franzindo cómica e subitamente o nariz, tal como um cachorrinho quando se põe a rosnar na brincadeira. Mas dele, de si próprio e daquilo que ele era, nada sabia, pois nada ficara dele no momento em que a deixou.
Nove dias depois de ter partido, eis que ele recebe a seguinte carta:
«CARO HENRY:
Tenho pensado muito no assunto, recapitulando tudo vezes sem conta, e parece-me agora que não há futuro para nós os dois, que é perfeitamente impossível pensarmos em ir por diante com uma tal aventura. - Quando cá não estás é que vejo como fui uma louca. Enquanto te tenho ao pé, como que me deixas cega para a realidade das coisas. Fazes-me ver tudo de forma tão irreal que perco a noção das proporções, fico aturdida e confusa. Mas quando volto a ficar a sós com Jill, parece que recupero então o meu senso comum e me apercebo da grande asneira que estou a fazer e do modo injusto como te tenho tratado. Porque é tremendamente injusto para ti eu aceitar ir por diante com este romance quando, lá bem no fundo do meu coração, não consigo sentir por ti um verdadeiro amor. Bem sei que há muita gente que diz uma série de tolices e absurdos sobre o amor, mas eu não quero cair nisso. Quero, isso sim, ater-me aos factos concretos e agir com calma e sensatez. E é isso que me parece que não estou a fazer, já que não vejo por que razão irei eu casar contigo. Pois eu sei que não estou loucamente apaixonada por ti, como sempre imaginei que me iria suceder com os rapazes quando não passava ainda de uma jovem tonta, de uma rapariguinha com a cabeça cheia de fantasias.