Capítulo 1: Capítulo 1
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Tu és-me totalmente estranho, continuas a ser um estranho para mim e creio bem que nunca deixarás de o ser. Assim sendo, por que motivo casaria eu contigo? Quando penso na Jill, constato que ela está infinitamente mais próxima de mim. Conheço-a e tenho-lhe um grande amor, odiando-me a mim mesma como a uma besta sem coração se porventura a magoo infimamente que seja. Vivemos a nossa vida juntas e, mesmo que isso não possa durar para sempre, bem, enquanto durar sempre é uma vida, a nossa vida. E esta poderá durar enquanto ambas vivermos. Pois quem poderá saber quanto tempo iremos ainda viver? Ela é um pequenino ser, frágil e delicado, e talvez ninguém saiba bem como eu quão delicada ela é. Quanto a mim, sinto que posso muito bem cair da tripeça um dia destes. De ti é que eu sei nada, és-me totalmente desconhecido. E quando penso naquilo que tenho sido, no modo como tenho agido para contigo, então começo a recear ter alguns parafusos a menos. Custa-me pensar que uma tal senilidade mental se esteja a revelar tão precocemente, mas é isso que me parece estar a acontecer. Pois tu és-me de tal modo estranho, de tal modo diverso daquilo a que estou habituada, que não me parece que tenhamos nada em comum. E quanto a amor, a própria palavra me soa a falso, me parece absurda e impossível. Sei qual o significado do amor, até mesmo no caso da Jill, e por isso acho que no que nos diz respeito ele é uma impossibilidade absoluta. E depois mais isso de ir para o Canadá. Estou certa de que devia estar maluca de todo quando te prometi uma coisa dessas. E isso deixa-me profundamente assustada comigo mesma. Sinto que poderia muito bem vir a fazer uma loucura, a praticar qualquer acto realmente louco, de que não fosse responsável, e a ter de acabar os meus dias num manicómio. És capaz de achar que já estou pronta para isso, tendo em conta o caminho que tenho vindo a trilhar, mas isso também não é lá muito lisonjeiro para mim.
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