E a minha deliciosa história morreu numa reticência, ainda mais regelada pela exclamação da tia Vicência:
- Oh! filho, que coisas! Mas como Jacinto se enfronhara de repente numa larga conversa com a Luisinha Rojão, que ria, toda luminosa e palradora, - todos, logo, como libertados do peso cerimonioso da sua presença augusta, se lançaram nas cavaqueirinhas discretas, a que agora o champanhe, depois do assado, dava mais vivacidade. Era a orla de murmúrios, em torno da mesa, com relevo e sem bulhas, que retomava, se estabelecia. E eu então desisti de animar o jantar. Mergulhei com a bela mulher do doutor na grande questão social desse tempo em Guiães, o casamento da D. Amélia Noronha com o feitor! E eu defendia a D. Amélia, os direitos do amor, quando se alargou um silêncio, - e era Jacinto, que se debruçava, de copo na mão.
- Velho amigo Zé Fernandes, à tua! Muitos e - bons, e sempre em companhia de tua tia e minha senhora, a quem peço para saudar.
Todos os copos, onde a espuma morria sobre um fundo de champanhe, se ergueram num largo rumor de amizade, e boa vizinhança. Eu acenei ao Manuel, vivamente, para encher os copos, e logo também de pé, atirando para trás a aba da sobrecasaca:
- Meus senhores, peço uma grande saúde para o meu velho amigo Jacinto, que pela primeira vez honra esta casa fraternal!... Que digo eu? Que pela primeira vez honra com a sua presença a sua pátria! E que por cá fique, pelas serras, muitos anos todos bons. À tua, meu velho!
Outro rumor correu pela mesa, mas cerimonioso e sereno. A tia Vicência truncou o seu copo, quase vazio, no de Jacinto, que tocou no copo da sua vizinha, a Luisinha Rojão, toda resplandecente, e mais vermelha que uma peónia. Depois foi o encadeamento de saúdes, entremisturadas, com os copos quase vazios, entre todos os convidados, sem esquecer o tio Adrião, e o abade, ambos ausentes, ambos com furúnculos.