CAPÍTULO XVI Muitas vezes, Jacinto, durante esses anos, falara com prazer num regresso de dois, três meses, ao 202, para mostrar Paris à prima Joaninha, E eu seria o companheiro fiel, para arquivar os espantos da minha serrana perante a Cidade! Mas depois conveio esperar que o Jacintinho completasse dois anos, para poder jornadear com conforto, e apontando já com o seu dedo para as coisas da Civilização, Mas quando ele, em Outubro, fez esses dois anos desejados, a prima Joaninha sentiu uma preguiça imensa, quase aterrada, do comboio, do estridor da Cidade, do 202, e dos seus esplendores. «Estamos aqui tão bem! Está um tempo tão lindo!» murmurava, deitando os braços, sempre deslumbrada, ao rijo pescoço do seu Jacinto; ele sacudia logo Paris, encantado. «Vamos para Abril, quando os castanheiros dos Campos Elísios estiverem em flor!» Mas em Abril vieram aqueles cansaços que imobilizavam a prima Joaninha no divã, ditosa, risonha, com umas pintas na pele, e o roupão mais solto. Por todo um longo ano estava desfeita a alegre aventura. Eu andava então sofrendo de desocupação. As chuvas de Março garantiam uma farta colheita. Uma certa Ana Vaqueira, corada e bem feita, viúva que sentia as necessidades do meu coração, partira com o irmão paira o Brasil, onde ele dirigia uma venda. Desde o Inverno, sentia também no corpo como um começo de ferrugem, que o emperrava, e, certamente, algures, na minha alma,
nascera Uma Pontinha de bolor. Depois a minha égua morreu... Parti eu para Paris.
Logo em Hendaya, apenas pisei a doce terra de França, o meu pensamento, como pombo a um velho pombal, voou ao 202, - decerto por eu ver um enorme cartaz em que uma mulher nua, com flores bacânticas nas tranças, se estorcia, segurando numa das mãos uma garrafa espumante, e brandindo na outra, para o anunciar ao Mundo, um novo modelo de saca-rolhas.