Aquela que amei na juventude, e da qual agora redijo calma e distintamente estas memórias, era filha única da única irmã de minha mãe, já há muito falecida. Eleonora era o nome de minha prima. Sempre residíramos juntos, sob um sol tropical, no Vale da Relva Multicor. Nunca quem quer que fosse pisou sem guia essa várzea, pois situava-se bem longe, entre uma cordilheira de colinas gigantescas que se erguiam proeminentes a toda a volta, ocultando à luz do Solos seus mais aprazíveis recessos. Nenhuma vereda era trilhada nas suas proximidades; e, para se chegar ao nosso ditoso lar, era preciso afastar pela força a folhagem de muitos milhares de árvores florestais e esmagar mortalmente o esplendor de milhões de perfumadas flores. Assim vivíamos sozinhos, nada conhecendo do mundo para lá do vale, eu, minha prima e sua mãe.
Das regiões sombrias para além das montanhas, no extremo mais elevado do nosso domínio cercado, corria lentamente um rio estreito e profundo, mais cintilante do que qualquer outra coisa, à excepção dos olhos de Eleonora; e, serpenteando furtivamente ao longo do seu sinuoso curso, atravessava por fim um escuro desfiladeiro, por entre colinas mais obscuras ainda do que aquelas onde nascia. Chamávamos-lhe o «Rio do Silêncio», pois parecia haver uma influência pacificadora no seu fluxo. Nem um sussurro se erguia do seu leito, e corria com tal suavidade que os seixos nacarados que gostávamos de contemplar, bem no fundo do seu seio, nem se moviam, antes jazendo numa bem-aventurança imóvel, cada um deles no seu lugar primitivo, cintilando esplendorosamente para todo o sempre.
A margem do rio, e dos inúmeros riachos deslumbrantes que deslizavam, por caminhos tortuosos, para o seu leito, bem como os espaços
