Eleonora - Cap. 1: Eleonora Pág. 3 / 8

que se estendiam das margens às profundezas dos rios até chegarem ao leito de seixos no fundo - todas estas zonas, tal como a superfície inteira do vale, desde o rio até às montanhas que o cingiam, eram atapetadas de uma macia relva verdejante, espessa, curta, perfeitamente nivelada e com um odor de baunilha, mas tão salpicada por toda a parte de rainúnculos amarelos, malmequeres brancos, violetas purpúreas e asfódelos cor de rubi, que a sua extrema beleza nos falava bem alto ao coração do amor e da glória de Deus.

Aqui e além, em tufos por entre a relva, como fantasias de sonho, erguiam-se árvores fantásticas, cujos troncos altos e esguios se não apresentavam direitos, mas graciosamente inclinados para a luz que se infiltrava ao meio-dia no centro do vale. A sua casca era mosqueada do vívido esplendor alternado do ébano e da prata, e mais macia do que qualquer outra coisa, excepto as faces de Eleonora; tanto assim que, não fosse o verde brilhante das amplas folhas que se estendiam do seu cimo em longas linhas trémulas, brincando com os Zéfiros, bem poderiam tomar-se por serpentes gigantes da Síria prestando homenagem ao seu soberano, o Sol.

De mão dada por esse vale fora, durante quinze anos vagueei com Eleonora antes de o Amor penetrar nos nossos corações. Foi numa tarde, no final do terceiro lustro da sua vida, e do meu quarto, que nos sentámos, apertados num amplexo, sob as árvores serpentiformes e contemplámos a nossa imagem nas águas do Rio do Silêncio. Durante o resto de tão doce dia não pronunciámos mais palavra; e, mesmo no dia seguinte, as nossas falas foram raras e hesitantes. Tínhamos acordado o deus Eras desse manancial e agora sentíamos que ele acendera em nós as almas ardentes dos nossos antepassados.





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