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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 14

Conforme imaginei, prova-se que o navio está sob a acção de uma corrente, se é que assim se pode apelidar uma maré que, gemendo e uivando através da brancura do gelo, troveja para sul com uma velocidade semelhante à impetuosa precipitação de uma catarata.

Creio ser totalmente impossível transmitir o horror das minhas sensações; porém, a curiosidade de penetrar os mistérios destas horríveis regiões prevalece mesmo sobre o meu desespero e reconcilia-me com o aspecto mais hediondo da morte. Torna-se evidente que corremos ao encontro de qualquer revelação emocionante: algum segredo que nunca será transmitido, descoberta é o termo da vida. Talvez esta corrente nos leve ao próprio Pólo Sul. Devo confessar que esta suposição, aparentemente tão estranha, tem todas as probabilidades de estar correcta.

A tripulação percorre o convés com passo inquieto e trémulo; mas há na sua atitude uma expressão que é mais da ânsia da esperança do que da apatia do desespero.

Entretanto, temos ainda o vento na popa e, como navegamos com imenso pano, o navio é por vezes erguido do mar em peso. Oh, horror sobre horror! O gelo abre-se simultaneamente à direita e à esquerda e começamos a rodopiar vertiginosamente em imensos círculos concêntricos, em torno de um gigantesco anfiteatro, de paredes cuja altura se perde na escuridão e na distância. Mas pouco tempo me restará para ponderar sobre o meu destino: os círculos estreitam rapidamente... mergulhamos loucamente nas garras do turbilhão... e, por entre o rugir, o bramir e o ribombar do oceano e da tempestade, o navio começa a estremecer e - meu Deus! - e... a afundar.

FIM

Nota do Autor: Manuscrito Encontrado Numa Garrafa foi publicado pela primeira vez em 1831, e só muitos anos mais tarde tomei conhecimento das cartas de Mercator, nas quais o oceano é representado a precipitar-se, por quatro embocaduras, no Abismo Polar (do Norte), para ser absorvido pelas entranhas da terra, sendo o próprio pólo representado por um rochedo negro que se ergue a uma altura prodigiosa.

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pág. 14 (Capítulo 1)

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Capa do livro Manuscrito Encontrado numa Garrafa
Páginas: 14
Página atual: 14

 
   
 
   
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