O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 4 / 38

Nunca se viu brilho maior que o que ele emite, mas isto só amanhã poderás ver. Entretanto posso dar-te uma ideia da sua forma. - E, ao dizer isto, sentou-se a uma pequena mesa onde havia caneta e tinta mas nenhum papel. Procurou numa gaveta, mas em vão.

»Não faz mal- disse finalmente -, isto serve. - E, tirando do bolso o que me pareceu ser um papel de embrulho muito sujo, traçou à pena um esboço rápido. Enquanto Legrand desenhava deixei-me ficar sentado junto do fogo, pois continuava cheio de frio. Terminado o desenho, entregou-mo sem se levantar. No momento em que lhe peguei ouviu-se lá fora um latido forte e o som de arranhadelas na porta. Júpiter foi abrir e um grande terra-nova, pertencente a Legrand, precipitou-se para mim, atirou as patas aos meus ombros e encheu-me de carícias, pois eu prestara-lhe muita atenção nas minhas visitas anteriores. Quando as festas do cão amainaram, olhei para o papel e, a falar verdade, fiquei bastante espantado com o que o meu amigo desenhara.

- Bom - disse eu, depois de ter contemplado o desenho durante uns minutos. - É realmente um escaravelho estranho e, devo confessá-lo, que nunca vi nada semelhante, a não ser talvez uma caveira. Sim, este desenho parece-se mais com o de uma caveira que com o de um bicho.

- Uma caveira! - repetiu Legrand. - Ah, sim, no papel tem realmente esse aspecto, não há dúvida. As duas manchas pretas superiores parecem os olhos, hem, e a maior, ao fundo, a boca. E ainda por cima a forma do contorno é oval.

- Talvez seja - respondi -, mas, Legrand, tenho a impressão de que, como artista, deixas a desejar. Tenho de esperar para ver o animal propriamente dito, para poder fazer uma ideia precisa do seu aspecto.

- Não percebo - disse Legrand, um tanto aborrecido.





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