Reparei então - e com que horror é desnecessário dizer - que a sua extremidade inferior era formada por um crescente de aço brilhante que media cerca de um pé de ponta a ponta, de pontas reviradas para cima e a lâmina inferior tão evidentemente afiada como a de uma navalha. Como uma navalha parecia pesado e maciço, transformando-se a partir do fio numa estrutura sólida e larga. Estava ajustado a uma pesada trave de cobre e todo o conjunto assobiava, balançando-se no ar.
Não podia duvidar mais do destino que me havia preparado o atroz engenho dos monges. Os agentes da Inquisição sabiam que eu descobrira o poço cujos horrores haviam sido destinados ao herético tão temerário que era eu - o poço, imagem do Inferno, que se dizia ser a Última Thule de todos os suplícios. O mais fortuito dos acidentes evitara-me o mergulho no poço e eu sabia que a surpresa ou armadilha eram parte essencial de todo o grotesco aparato destas mortes nas masmorras. Visto que não me despenhara, não estava no plano diabólico empurrar-me para o abismo; e assim (não havendo outra alternativa) esperava-me uma destruição diferente e mais suave. Mais suave! Quase sorri na minha agonia ao pensar neste termo aplicado a tais circunstâncias.
Para quê contar as longas, longas horas 'de horror mais que mortal, durante as quais contei as vibrações da oscilação do aço? Polegada a polegada -linha a linha -, a sua descida só se podia apreciar em intervalos que pareciam séculos - o pêndulo baixava cada vez mais. Os dias passaram - podem ter decorrido muitos dias -, até que veio balançar-se tão perto de mim que pude sentir o seu cheiro acre. O odor do aço afiado penetrou-me nas narinas. Rezei - aborreci o céu com as minhas preces - para que descesse mais rapidamente.
